DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:
O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
Um programa sob medida para a conjuntura regional
Ten Cel Kenji Alexandre Nakamura 1
RESUMO
Este artigo apresenta a contextualização do Programa Estratégico do Exército GUARANI no Processo de Trans-
formação do Exército Brasileiro que ora está em curso, evidenciando a sua contribuição para a manutenção da
capacidade dissuasória da expressão militar do Poder Nacional, ao mesmo tempo que traz grandes benefícios para
o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa e para o bem-estar e segurança da sociedade.
Palavras-chave: Programa Estratégico do Exército GUARANI, Transformação, Capacidades, Base Industrial de
Defesa, Plano Estratégico do Exército, Portfólio Estratégico do Exército, Dissuasão
RESUMEN
Este artículo presenta la contextualización del Programa Estratégico del Ejército GUARANI en el Proceso de
Transformación del Ejército Brasileño que ahora está en marcha, evidenciando su contribución al mantenimiento
de la capacidad disuasiva de la expresión militar del Poder Nacional, al mismo tiempo trae grandes beneficios para
el desarrollo de la Industria de la Defensa y para el bienestar y seguridad de la sociedad.
Palabras clave: Programa Estratégico del Ejército GUARANI, Transformación, Capacidades, Base Industrial de
Defensa, Plan Estratégico del Ejército, Portfolio Estratégico del Ejército, Disuasión
1 knakamurabr@gmail.com
EJÉRCITO DEL BRASIL
Artículo enviado: 10/02/2020 - Aceptado: 28/02/2020 - Publicado: Abril 2020.
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 149-162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
1. Introdução
Já nos anos 2000, prognósticos apontavam para um
A partir de meados da década de 1990, o Exército
mundo com mais conflitos irregulares e de baixa inten-
Brasileiro (EB) passou a conduzir o seu preparo sob
sidade, na qual ameaças ligadas ao crime organizado e
ao terrorismo ganhariam mais relevância. Surgia tam-
o contexto da chamada “Doutrina Delta”2, cuja con-
bém a tendência do crescente papel da rede mundial
cepção geral tinha como referencial as operações mi-
de computadores na vida das pessoas, gerando uma
litares executadas durante a Guerra do Golfo nos anos
revolução na maneira como a sociedade interage e lida
1990-1991. Nessa concepção doutrinária, destacava-se
com a informação, marcando assim, o início do que
a necessidade de se conduzir operações simultâneas e
se convencionou chamar de “Era do Conhecimento”,
sincronizadas, por meio do combate continuado e em
na qual a Indústria 4.06 vem ganhando protagonismo.
profundidade. Objetivo, ofensiva, manobra, massa e
Com o término da crise financeira mundial de 2007-
surpresa eram os princípios de guerra mais valorizados
2008, mudanças intensas passaram a ser verificadas na
naquele momento. Além disso, pontuou-se a importân-
geopolítica internacional em direção à multipolarida-
cia da conquista de objetivos estratégicos relacionados
de. Acompanhando todas essas mudanças, os gastos de
ao centro de gravidade da força inimiga, bem como a
muitos países em Defesa passaram a crescer consisten-
obtenção da superioridade no uso do espectro eletro-
temente7, particularmente em países não membros da
magnético. Diante desses aspectos, concluiu-se que os
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
elementos mais adequados da Força Terrestre para o
emprego nesse cenário operativo eram as forças blin-
Mais recentemente, na esteira do aumento de gas-
dadas e mecanizadas3.
tos militares, conceitos como o de “Conflito em Lar-
ga Escala” vem aparecendo com mais frequência em
A partir de então, o EB passou a conduzir estudos
publicações doutrinárias internacionais, contrariando
mais aprofundados sobre a adequação e a substituição
a tendência apresentada por alguns estudos prospecti-
dos seus meios mecanizados4, compostos em sua totali-
vos passados e evidenciando a volatilidade do mundo
dade pelas viaturas blindadas de reconhecimento EE-9
atual, bem como a rapidez com que as políticas de De-
CASCAVEL e de transporte de tropa EE-11 URUTU,
fesa necessitam se ajustar à realidade em voga. Essas
ambas fabricadas pela empresa nacional ENGESA. Es-
considerações impõem às estruturas militares, como
sas duas viaturas constituíam o cerne das Brigadas de
também aos Sistemas e Materiais de Emprego Militar
Cavalaria Mecanizadas do EB. Em que pese a sua bem-
(SMEM) modernos a incorporação de conceitos como
-sucedida trajetória de emprego operacional até aquele
flexibilidade, adaptabilidade e principalmente modula-
momento, tanto no Brasil como no exterior, esses blin-
ridade, visando assim não se tornarem obsoletos antes
dados, que foram incorporados na Força Terrestre na
mesmo de saírem das linhas de produção.
década de 1970, já haviam praticamente chegado ao
fim do seu ciclo de vida5 operacional, por uma com-
Assim sendo, a evolução da conjuntura é captada
binação de motivos doutrinários, logísticos e, princi-
e analisada pelo Ministério da Defesa (MD) do Bra-
palmente, técnicos. Evidentemente, esse panorama
sil, que elabora a chamada Política Nacional de De-
não leva em consideração ações pontuais conduzidas
fesa (PND), documento “de mais alto nível do plane-
em Organizações Militares (OM) logísticas visando
jamento de ações destinadas à defesa nacional” e que
o prolongamento da vida útil de determinados lotes
“estabelece objetivos e orientações para o preparo e o
dessas viaturas. Verificava-se que as características
emprego dos setores militar e civil em todas as esferas
do ambiente operacional já demandavam Capacidades
do Poder Nacional” (Ministério da Defesa, 2012, p. 1),
Operativas (CO) da Força Terrestre que os meios me-
cujo core é a apresentação dos Objetivos Nacionais de
canizados em uso já não tinham condições de atender
Defesa. Desses objetivos, dois estão diretamente rela-
de modo pleno, mesmo que repotencializados.
cionados ao desenvolvimento e à obtenção de SMEM
2 Concepção de emprego da Força Terrestre brasileira que antecedeu a atual, constante nas Instruções Provisórias IP 100-1 - Bases para a
Modernização da Doutrina de Emprego da Força Terrestre, de 1996. Essas instruções foram revogadas por ocasião da aprovação em 2014 do
Manual de Fundamentos EB20-MF-10.102 - Doutrina Militar Terrestre.
3 Conforme o Glossário das Forças Armadas (MD35-G-01), mecanizado é o “termo genérico utilizado para designar toda viatura de combate
ou de apoio ao combate, caracterizada pela blindagem leve e deslocamento sobre rodas” (Ministério da Defesa, 2015, p. 165).
4 Em 1997, ocorreu o 1º Seminário de Doutrina e Emprego da Cavalaria, em que verificou-se a necessidade de iniciar o desenvolvimento de
uma nova família de blindados sobre rodas (EME, 2018).
5 Sinteticamente, o ciclo de vida de um material de emprego militar vai “desde a identificação de uma lacuna de capacidade [...]; seu
atendimento por intermédio de um [...] material; a confrontação deste com [...] requisitos estabelecidos; a avaliação técnica e operacional; a
oportuna revitalização, repotencialização ou modernização até sua desativação” (Comandante do Exército, 2016).
6 Relacionada à quarta revolução industrial, que se caracteriza por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital
e biológico (MICS - ABDI, 2020).
7 Conforme dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), os gastos militares mundiais foram de 1,8 trilhão de dólares
em 2018, representando um aumento de 2,6% em relação à 2017 (SIPRI, 2019).
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DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
e de CO: “desenvolver a indústria nacional de defesa,
Cabe salientar, contudo, que o ano de 1997 pode ser
orientada para a obtenção de autonomia em tecnolo-
considerado o ano de origem do então Projeto GUA-
gias indispensáveis” e “estruturar as Forças Armadas
RANI, pois foi quando se aprovaram as CONDOP em
em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e ma-
função da nova concepção doutrinária que entrava em
terial compatíveis com os planejamentos estratégicos e
vigor. Mais adiante, a decisão para a obtenção de uma
operacionais” (Ministério da Defesa, 2012, p. 8). Por
NFBR através do vetor Pesquisa e Desenvolvimento
sua vez, a Estratégia Nacional de Defesa (END) de
(P&D) do EB ocorreu no ano de 2006 (ou seja, em um
momento anterior à publicação da END de 2008), e a
2012, documento alinhado com a PND e com os pla-
nejamentos estratégicos de longo prazo do Ministério
partir dela, o Projeto GUARANI foi iniciado de fato em
2007, nas OM do Departamento de Ciência e Tecnolo-
da Economia8, chama a atenção para a necessidade da
gia (DCT)10, que possui a missão de buscar o desenvol-
transformação das Forças Armadas brasileiras:
vimento e a produção de materiais, sistemas, tecnolo-
gias e serviços na área de Defesa (DCT, 2020). De lá
Disposição para mudar é o que a Nação está a exi-
para cá, o Projeto GUARANI passou a adaptar-se ao
gir agora de si mesma, de sua liderança, de seus mari-
aperfeiçoamento dos processos de gestão e às mudanças
nheiros, soldados e aviadores. Não se trata apenas de
conjunturais, particularmente das áreas econômica e de
financiar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de
Defesa, evoluindo assim para o estágio atual, denomi-
transformá-las, para melhor defenderem o Brasil (Mi-
nado Programa Estratégico do Exército (Prg EE) GUA-
nistério da Defesa, 2012, p. 2).
RANI, cuja abrangência é maior em comparação ao
escopo inicialmente estabelecido em 2007.
Do exposto, a Era do Conhecimento marca um pro-
cesso histórico de concretização de avanços científicos
e tecnológicos em diversas áreas do conhecimento,
2. O Processo de Transformação do
cujo impacto é decisivo para o bem-estar da população,
Exército
para as relações internacionais e para a preservação do
O conceito de transformação de forças militares foi de-
equilíbrio militar entre os países. Dessa forma, com o
senvolvido para possibilitar o seu ajustamento diante
do aparecimento de novas tecnologias, ao mesmo tem-
intuito de se manter à altura dos anseios nacionais, o
po que busca quebrar paradigmas, que se constituem
EB vem conduzindo de maneira prioritária um amplo
em entraves ao aprimoramento institucional. Para uma
Processo de Transformação, que vem contribuindo
melhor compreensão da “transformação” em questão,
substancialmente para aprimorar todos os sistemas da
é conveniente apontar a conceituação desse termo feita
Força, reduzir o hiato tecnológico em relação a outros
por Covarrubias (2007), que é similar à adotada atual-
exércitos e mitigar vulnerabilidades que atentam à ma-
mente no EB: “é o desenvolvimento de novas capa-
nutenção dos interesses nacionais, preservando assim,
cidades para cumprir novas missões ou desempenhar
o poder dissuasório da expressão militar (DCT, 2020).
novas funções de combate.” Além disso “implica numa
mudança muito mais radical já que envolve mudanças
nas missões e tem um alcance não somente técnico,
Dessa maneira, as Condicionantes Doutrinárias e
mas também político” (p. 18). Para clarificar a diferen-
Operacionais (CONDOP)9, trabalhadas no âmbito do
ça deste com o conceitos de modernização e adaptação,
EB para a definição das características dos SMEM, são
Covarrubias (2007) afirma ainda que modernização “é
elaboradas no sentido de se ajustarem a um ambiente
a otimização das capacidades para cumprir a missão de
operacional complexo, cujo futuro é essencialmente
uma melhor forma”, ao passo que adaptação “consiste
incerto e difuso, e onde a identificação do oponente no
em adaptar as estruturas existentes para continuar cum-
meio da população civil é extremamente dificultada. A
prindo com as tarefas previstas” (p. 18). Assim sendo,
atualização das CONDOP, somada ao desgaste natural
entende-se que uma transformação do EB não envolve
somente o aperfeiçoamento da doutrina ou a obtenção
do material em uso e a um quadro de recursos financei-
de material, mas sim reflexões e mudanças em toda a
ros limitados, vem exigindo nos últimos anos soluções
estrutura e processos da Força.
inteligentes, sustentáveis e oportunas no gerenciamen-
to do processo de obtenção da Nova Família de Blinda-
Dessa maneira, em consonância com a END, atu-
dos Sobre Rodas (NFBR), que é um componente chave
almente é conduzido o Processo de Transformação do
para a transformação do EB, a fim de torná-lo apto para
Exército Brasileiro, que passou a ser implementado em
enfrentar as ameaças do século XXI.
2010, a partir da expedição de uma diretriz do Estado-
8 Um dos principais instrumentos do planejamento econômico para um desenvolvimento nacional equilibrado é a Estratégia Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (ENDES), que é “concebida com o objetivo de orientar, articular e influenciar as discussões dos demais
[...] planos nacionais, setoriais e regionais [...]” (MEPDG, 2018).
9 No EB, as CONDOP de um material são reunidas em um documento de mesmo nome, com parâmetros que definem o emprego e o
desempenho desse material, levando-se em consideração a Doutrina Militar Terrestre (Comandante do Exército, 2016).
10 Órgão de Direção Setorial do EB, que possui em sua organização o Centro Tecnológico do Exército (CTEx), situado no município do Rio
de Janeiro.
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DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
-Maior do Exército (EME)11, que é o órgão de direção
Do exposto, foram estabelecidas metas para o Prg
geral da Força. Para a condução das tarefas previstas
EE GUARANI que vão além da obtenção dos novos
nesse processo, foram organizados grupos de trabalho
blindados. Assim, o principal objetivo estabelecido
relacionados aos denominados vetores de transforma-
para o programa foi de “transformar a Infantaria Mo-
ção: Doutrina, Educação e Cultura, Gestão e Recursos
torizada em Mecanizada e modernizar a Cavalaria Me-
Humanos, Gestão Corrente e Estratégica, Ciência e
canizada”. É provável que a magnitude da transforma-
Tecnologia (C&T) e Modernização do Material, Prepa-
ção esperada no cerne das duas Armas base do EB e
ro e Emprego e Logística.
o salto qualitativo e quantitativo do poder de combate
da Força Terrestre, por meio do Prg EE GUARANI,
Do ponto de vista do vetor C&T e Modernização do
só encontre paralelo nas transformações ocorridas na
Material, foco deste trabalho, o Processo de Transfor-
década de 1970, quando os regimentos de Infantaria
mação do EB “requer a adoção de medidas que criem,
foram transformados em batalhões de Infantaria moto-
rizados e blindados, e os regimentos de Cavalaria em
estimulem e potencializem as capacitações tecnológicas
regimentos de Cavalaria blindados, de carros de com-
e produtivas nacionais, de tal forma que estas venham
bate e mecanizados, com estes últimos recebendo os
a dotar a Força Terrestre de CO compatíveis com a
blindados Cascavel e Urutu.
evolução das estaturas política e estratégica do Brasil”
(Comandante do Exército, 2019, p. 1). Para o desenvol-
A condução do Prg EE GUARANI e dos demais
vimento de SMEM devidamente ajustados às necessi-
programas é otimizada através do Portfólio Estratégi-
dades operacionais da Força, é primordial também o
co do Exército (Ptf EE), que é o principal instrumento
estudo e a elaboração de uma nova Doutrina Militar Ter-
do Processo de Transformação do EB. As Diretrizes do
restre contendo um novo conceito operativo da Força,
Comandante do Exército de 2019, que é uma orienta-
pois uma nova doutrina estabelece parâmetros de em-
ção contextualizada para todos os integrantes da Força,
prego, os quais serão utilizados como referência pelos
aponta duas premissas fundamentais que norteiam o
desenvolvedores de SMEM. Como já mencionado, os
Ptf EE: “a continuidade do Processo de Transformação
parâmetros em questão são consolidados nas CONDOP.
do Exército [...]; e a manutenção de elevada capacidade
dissuasória fundamentada em alto nível de preparo e na
incorporação de novas capacidades” (Comandante do
Nesse sentido, em 2013, foram aprovadas pelo Che-
Exército, 2019).
fe do EME as Bases para a Transformação da Doutrina
Militar Terrestre. Este documento, além de trazer consi-
Entende-se como portfólio “um conjunto de subpor-
derações a respeito dos fatores que afetam os conflitos12
tfólios, programas e projetos desenvolvidos para per-
na Era do Conhecimento e as principais implicações
mitir a implementação da estratégia da organização.
para as operações terrestres13, apresentou a concei-
Umas das principais características dos portfólios é que
tuação das “Operações no Amplo Espectro”, conceito
eles não são temporários como projetos e programas”
operativo adotado pela Força, e também as característi-
(Comandante do Exército, 2017). No caso do EB, o Ptf
cas requeridas pelos elementos da Força Terrestre nesse
EE reúne e organiza todos os programas estratégicos
contexto: Flexibilidade, Adaptabilidade, Modularidade,
da Força em três subportfólios: Dimensão Humana,
Elasticidade e Sustentabilidade (FAMES).
Geração de Força e Defesa da Sociedade (Tabela 1).
Portfólio Estratégico do Exército Brasileiro
Subportfólios
Programas Estratégicos do Exército Brasileiro
Força da Nossa Força (Ações para atrair, reter, motivar e comprometer o
Dimensão Humana
pessoal)
Educação e Cultura
Amazônia Protegida
Gestão de Tecnologia da Informação e Comunicações
Logística Militar Terrestre
Geração de Força
PENSE (Sistema de Engenharia do Exército)
Sentinela da Pátria
SISOMT - Sistema Operacional Militar Terrestre
11 Diretriz aprovada pela Portaria Nº 075-EME, de 10 de junho de 2010.
12 A dimensão humana, o combate em áreas humanizadas, a importância da informação, o caráter difuso das ameaças, o ambiente
interagências, as novas tecnologias e sua proliferação e o espaço cibernético (EME, 2013).
13 As competências requeridas, as capacidades requeridas, a letalidade seletiva, a proteção da tropa, a superioridade de informações, a
consciência situacional, a digitalização do espaço de batalha, as operações de informação e a aproximação dos níveis de planejamento e
condução das operações (EME, 2013).
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DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
Portfólio Estratégico do Exército Brasileiro
Subportfólios
Programas Estratégicos do Exército Brasileiro
ASTROS 2020 (Sistema de Artilharia de Mísseis e Foguetes)
Aviação do Exército
Defesa Antiaérea
Defesa Cibernética na Defesa Nacional
Defesa da Sociedade
OCOP - Obtenção da Capacidade Operacional Plena
PROTEGER - Proteção da Sociedade
SISFRON - Sistema Integrado de Monitoramento das Fronteiras
GUARANI
Tabela 1. Portfólio Estratégico do Exército e Prg EE GUARANI em destaque. (Fonte: EPEx, 2018).
No escopo do subportfólio Defesa da Sociedade, os
Um aspecto de relevância da gestão do Portfólio
resultados do Prg EE GUARANI, juntamente com os
é a sua contribuição para a Base Industrial de Defesa
resultados obtidos dos demais programas, contribuem
(BID) brasileira, pois incentiva a P&D, a transferência
para a obtenção e o suporte das capacidades de nível
de tecnologias e a capacitação técnica especializada,
mais elevado da Instituição, as denominadas Capacida-
assegurando dessa maneira “que o atendimento das
des Militares Terrestres (CMT). Atualmente, o EB tra-
necessidades de equipamento das Forças Armadas se
balha com nove CMT, dentre os quais Pronta Resposta
apoie em tecnologias sob domínio nacional” (EME,
Estratégica e Superioridade no Enfrentamento14. As
2018, p. 22). Promove ainda o desenvolvimento das
CMT são as necessárias para que o EB possa cumprir
tão necessárias tecnologias de emprego dual, que são
as missões previstas para as Forças Armadas contidas
uma excelente opção quando se trata de otimizar e jus-
na Constituição Federal brasileira de 1988. Para fins
tificar investimentos públicos em SMEM.
de preparo e emprego, cada CMT agrupa um determi-
nado número de CO afins e com ligações funcionais,
Neste ponto é necessário novamente mencionar o
possibilitando dessa maneira, que cada uma delas seja
DCT e o seu papel para o desenvolvimento da BID do
melhor desenvolvida. As estratégias para a obtenção
País. O DCT gere uma ferramenta chamada Sistema
das CMT e a correlação delas com os Prg EE são con-
Defesa, Indústria e Academia de Inovação (SisDIA)16,
solidadas no Plano Estratégico do Exército (PEEx).
cujo funcionamento tem como base os conceitos da
Inovação Aberta17 e da Tríplice Hélice, cuja definição
O ente responsável pelo planejamento, coordenação
foi concebida pelos professores Henry Etzkowitz e
e integração das atividades de interesse do Ptf EE é o Es-
Loet Leydesdorff, e se fundamenta na interação entre
critório de Projetos do Exército (EPEx)15, integrante do
as instituições universitárias, as organizações empresa-
EME. O EPEx “é o órgão de coordenação executiva do
riais que representam o setor produtivo de bens e servi-
EME para fins de gerenciamento do Ptf EE, constituindo-
ços, e as instâncias governamentais, que são os agentes
-se no escritório de projetos de mais alto nível da Força”
reguladores e de fomento da atividade econômica. Essa
(Comandante do Exército, 2017), e tem como atribuição
a identificação de pontos de convergência entre os diver-
interação visa a produção de novos conhecimentos, a
sos programas do portfólio com vistas a otimizar pro-
inovação científica e tecnológica e o desenvolvimen-
cessos e a racionalizar os recursos financeiros. O EPEx
to econômico. O SisDIA (Figura 1) funciona sob esse
realiza ainda o estudo das lições aprendidas e das boas
contexto (DCT, 2020) e tem como referência os Obje-
práticas de todas as iniciativas relacionadas, buscando a
tivos Nacionais de Defesa da PND atinentes à inovação
melhoria da gestão de um modo geral (EME, 2018).
e tecnologia.
14 Conforme o Catálogo de Capacidades do Exército, as CMT são: Pronta Resposta Estratégica, Superioridade no Enfrentamento, Apoio
a Órgãos Governamentais, Comando e Controle, Sustentação Logística, Interoperabilidade, Proteção, Superioridade de Informações e
Cibernética (EME, 2015).
15 O EPEx foi implementado por meio da Portaria Nº 134-EME, de 10 de setembro de 2012.
16 De fato, o SisDIA é conduzido pela Agência de Gestão e Inovação Tecnológica (AGITEC), organização militar subordinada ao DCT
(DCT, 2020).
17 Inovação aberta é um paradigma desenvolvido por Henry William Chesbrough, professor da Universidade da Califórnia, Estados
Unidos. De modo sintético é o uso intencional de entradas de conhecimento para acelerar a inovação interna de uma organização e saídas (de
conhecimento) para expandir os mercados visando o uso externo da inovação (Chesbrough, 2006, p. 2).
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DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
A primeira das versões do veículo 6x6 produzida
foi a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal, Média
Sobre Rodas (VBTP-MSR) GUARANI. O seu proje-
to é determinante para o Prg EE GUARANI, e conse-
quentemente para o Ptf EE e para o Processo de Trans-
formação do Exército, na medida em que os novos
blindados são distribuídos às unidades mecanizadas.
De igual maneira, o Prg EE GUARANI, por sua im-
portância estratégica e simbolismo, vem contribuindo
substancialmente para o desenvolvimento da BID.
3. O Plano Estratégico do Exército
De quatro em quatro anos, com a finalidade de orientar
o processo dos investimentos da Força, é elaborado o
PEEx, documento da mais alta relevância institucio-
nal, pois associa os Objetivos Estratégicos do Exérci-
to (OEE) com os programas do Ptf EE. Esse plano é
Figura 1. Logo do SisDIA, fundamentado no conceito
elaborado pelo EME através do chamado Sistema de
da Tríplice Hélice. (Fonte: site do DCT, 2020).
Planejamento Estratégico do Exército (SIPLEx), um
macroprocesso alinhado com o Marco Legal brasilei-
Atualmente, dentro do escopo do SisDIA, estão em
ro, o Processo de Transformação e as diretrizes do Co-
desenvolvimento tecnologias e capacidades relaciona-
mandante do Exército. O SIPLEx é dividido em 7 fases
das à diversas áreas de pesquisa, como sensoriamento
(Figura 2) e tem início com a compreensão exata da
para vigilância terrestre e aérea; guiamento de mísseis
Missão do EB, e também a apresentação dos Valores e
e foguetes; cibernética; simuladores; Comando e Con-
da Visão de Futuro da Força.
trole (C²); embarcações blindadas e desenvolvimento,
aquisição e revitalização de veículos blindados.
Na sequência, é conduzida a fase de Análise Estra-
tégica, com a participação do Centro de Estudos Estra-
Assim, o processo de obtenção da NFBR no esco-
po do Prg EE GUARANI contempla uma variedade de
tégicos do Exército (CEEEx), que tem a responsabili-
meios mecanizados e seus respectivos sistemas de ar-
dade de avaliar as conjunturas nacional e internacional,
mas com capacidade de letalidade seletiva, e também
além de conduzir estudos prospectivos de interesse do
um flexível sistema de C², permitindo o seu emprego
EB. Essas ações contribuem para a elaboração de um
em Operações no Amplo Espectro dos conflitos arma-
diagnóstico estratégico e de cenários prospectivos, que
dos. Em atenção às suas CONDOP, dela fazem parte
possibilitam a identificação de possíveis situações em
duas subfamílias: uma média de veículos blindados de
que haja a necessidade de ações oportunas da Força
tração 6x6 e 8x8 (esta última concebida para operações
para a superação de óbices e aproveitamento de oportu-
de reconhecimento), e uma leve de veículos blindados
nidades. O CEEEx mantém ainda ligação com órgãos
de tração 4x4, os quais devem possuir um índice de
similares do MD, das demais forças singulares e enti-
nacionalização superior a 60% (EPEx, 2018, p. 27).
dades públicas e privadas, incluindo representantes do
meio acadêmico e empresarial (CEEEx, 2019).
SIPLEX
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 5
Fase 6
Análise
Política Mil
Estratégia
Orçamento
Missão
Planos
Estratégica
Ter
Mil Ter
e Contratos
Objetivos
Diagnóstico
Concepção
Valores
Estratégicos do
Estratégico
Estratégica do
Plano
e
Exército
Proposta
e
Exército
Estratégico do
Visão de
e
Orçamentária
Cenários
e
Exército (PEEx)
Futuro
Mapa
EB - 2035
Estratégias
Estratégico
Fase 7
Avaliação do Desempenho Organizacional (resultados)
Figura 2. Versão simplificada do SIPLEx com o PEEx em destaque. (Fonte: EME).
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DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
A Fase 3 do SIPLEx trata da elaboração da Políti-
e a otimização na alocação integrada dos recursos (fi-
ca Militar Terrestre (PMT), cujo conteúdo tem como
nanceiros), configurando o portfólio como ferramenta
referência a END, efetivando assim, o alinhamento de-
efetiva na implantação da estratégia de mais alto nível
sejado com as políticas e diretrizes emanadas do MD.
da Força” (Comandante do Exército, 2017).
Além desse aspecto, a PMT é decorrente da análise da
Missão do EB e do estudo das indicações resultantes da
A Fase 4 do SIPLEx é a Estratégia Militar Terrestre,
Análise Estratégica, sendo norteado pela Visão de Fu-
em que é elaborada a CE do Exército, um embasamen-
turo da Força. A PMT é o documento de mais alto nível
to conceitual que apresenta como o emprego do EB é
do Comando do EB e tem como finalidade principal
pensado. Para isso, apresenta também a visualização da
orientar os trabalhos de elaboração da Concepção Es-
organização, articulação e o preparo da Força Terrestre,
tratégica (CE) do Exército e do PEEx. Nessa fase são
destacando as suas prioridades. Completando as ativi-
relacionados pela primeira vez no processo os OEE,
dades dessa fase, cada um dos OEE são desmembrados
que traduzem de forma ampla as prioridades estraté-
em estratégias e ações estratégicas, de modo a possibi-
gicas da Força, orientando todos os seus componen-
litar a correlação desses elementos com a obtenção da
tes para a ação e para o que precisa ser feito (EME,
CMT e com o Prg EE, a ser realizada na fase seguinte.
2019). Nesse sentido, esses objetivos são descritos e
recebem um diagnóstico conjuntural simplificado.
Nesse ponto, todos os elementos necessários para
É apresentada também a intenção do Comando do
elaboração do PEEx já foram apresentados, e dessa
Exército em relação a cada OEE, sendo apontados os
maneira, é iniciada a Fase 5, que consolidará os OEE,
fatores críticos de sucesso e os respectivos indicadores
apontando os prazos para que as respectivas atividades
e metas a serem atingidos. Ressalta-se que na PMT, os
sejam executadas. Ademais, com o objetivo de tornar
OEE são apenas apresentados e descritos. A aborda-
possível o manejo dos OEE e seus desdobramentos pe-
gem de como serão trabalhados e relacionados com as
los órgãos de direção setorial do EB e pelos comandos
CMT e os Prg EE aparecerá mais adiante, na Fase 5 do
militares de área, é feito o relacionamento de cada um
SIPLEx, que corresponde ao PEEx. Na PMT aprovado
deles com as respectivas CMT a serem obtidas e os Prg
em 2019, foram apresentados quinze OEE.
EE envolvidos, bem como a indicação do ente respon-
sável ou que tenha algum interesse na sua execução.
Ressalta-se que é acrescido à PMT um importante
O PEEx é produzido para que abarque um período de
documento de apoio: o Mapa Estratégico do Exército,
4 anos, de modo que seus prazos sejam coincidentes
que nada mais é do que um diagrama que represen-
como as do Plano Plurianual (PPA)19 do Governo Fe-
ta visualmente as relações de causa e efeito entre os
deral, previsto no artigo 165 da Constituição Federal.
OEE e quatro perspectivas: da sociedade, dos proces-
A atual versão do PEEx foi aprovada em dezembro de
sos críticos, do aprendizado e crescimento, e da insti-
2019 e corresponde ao quadriênio 2020-2023. Nesse
tucional18 (EME, 2019). Além disso, um aspecto rele-
plano estão relacionados os OEE com as suas respec-
vante do Mapa Estratégico é a sua vinculação ao Ptf
tivas estratégias e ações estratégicas decorrentes. Na
EE, cujo alinhamento estratégico dos seus programas
Tabela 2, estão indicados os OEE que possuem relação
com os OEE permitirão “a maximização dos benefícios
direta com o Prg EE GUARANI, e em qual CMT é es-
perado o efeito da condução das estratégias associadas.
OEE
Estratégia
CMT
Ampliação da Capacidade Operacional
Contribuir com a Dissuasão
Superioridade
Extrarregional
Ampliação da mobilidade e elasticidade da Força
no
Aperfeiçoar o Sistema de
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Produtos de
Enfrentamento
Ciência, Tecnologia e Inovação
Defesa
Manter atualizado o Sistema de
Estabelecimento de uma Doutrina Militar Terrestre
Doutrina Militar Terrestre
compatível com uma Força transformada
Todas
Aperfeiçoar o Sistema de
Adequação da infraestrutura de Educação e Cultura
Educação e Cultura
Tabela 2. OEE relacionados ao Prg EE GUARANI. (Fonte: EME).
18 O Mapa Estratégico do Exército é apresentado a partir de uma adequação da metodologia Balanced Scorecard (BSC), que é empregada
em planejamento e gestão de organizações para a implementação de uma estratégia. A metodologia BSC emprega quatro perspectivas: a
financeira, a dos clientes, a dos processos internos e a do aprendizado e crescimento.
19 Instrumento de planejamento de médio prazo elaborado pelo Ministério da Economia que define as diretrizes, objetivos e metas da
administração pública federal para um horizonte de quatro anos (MEPDG, 2020).
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 155- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
O PEEx 2020-2023, tendo como base a CE, aponta
nalidade da tropa enquanto se conduz o processo gra-
também a prioridade para recomplemento de SMEM
dual de substituição dos veículos.
das grandes unidades da Força Terrestre. Assim, veri-
fica-se a alta prioridade dada à duas grandes unidades
Como já mencionado, os programas estratégicos,
localizadas nos trechos sul e oeste da faixa de fronteira
dentre os quais o Prg EE GUARANI, fazem parte do
brasileira: a 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada (15ª
Ptf EE, que é gerenciado pelo EPEx por meio de outro
Bda Inf Mec) e a 4ª Brigada de Cavalaria Mecaniza-
macroprocesso, denominado Macroprocesso da Gestão
da (4ª Bda C Mec). Essas duas brigadas, enquadradas
do Portfólio do Exército, que entrou em vigor em feve-
como Forças de Emprego Estratégico, são considera-
reiro de 201720, por ocasião da aprovação das inéditas
das essenciais nos processos do Prg EE GUARANI,
Normas para Elaboração, Gerenciamento e Acompa-
evidenciando assim, a busca pelo atingimento do prin-
nhamento do Portfólio e dos Programas Estratégicos
cipal objetivo do programa em questão.
do Exército Brasileiro (NEGAPORT-EB). O gerencia-
mento de projetos não é algo recente no EB, entretanto
A penúltima fase do SIPLEx é a execução da
no prefácio das normas em questão, é feita uma con-
Proposta Orçamentária e a celebração dos contratos
sideração sobre o ineditismo de gerenciar programas
de objetivos entre os diversos órgãos envolvidos na
estratégicos no EB formatados segundo o conteúdo
execução do PEEx. Cabe ressaltar que as restrições
baseado e adaptado do Guia PMBoK - Project Mana-
orçamentárias representam um óbice de relevância à
gement Body of Knowledge, do Project Management
execução do PEEx 2020-2023 e, em consequência, ao
Institute (PMI), que é considerado uma referência in-
Processo de Transformação do Exército. Dessa ma-
ternacional para o gerenciamento de projetos (Coman-
neira, foi reduzida a quantidade de atividades neces-
dante do Exército, 2017). Ainda nesse sentido, é feito o
sárias para a efetivação das estratégias (e ações estra-
seguinte apontamento:
tégicas) dos OEE. Contudo, devido à sua importância
Considerando o nível e a complexidade dos Prg
para a obtenção de determinadas CMT, algumas ati-
EE, não se pode deixar de estudar o que o referencial
vidades consideradas fundamentais e de alto custo fo-
teórico acadêmico-corporativo apresenta. Contudo,
ram mantidas no PEEx. Esse é o caso das atividades
mesmo observando-se que as forças armadas de outros
relacionadas ao Prg EE GUARANI, que como já foi
países, que gozam de respeito no sistema internacional,
visto, é um dos aspectos chave no Processo de Trans-
também se valem destes mesmos conhecimentos, estas
formação do Exército (EME, 2019). Encerrando o SI-
normas levaram em conta a cultura institucional e a re-
PLEx, é conduzida a Avaliação do Desempenho Or-
alidade do EB (Comandante do Exército, 2017).
ganizacional que é conduzida durante toda a vigência
do PEEx, analisando os resultados obtidos das fases
Ressalta-se que como o atual Prg EE GUARANI
posteriores com a finalidade de aperfeiçoar a gestão
evoluiu de um projeto menos abrangente iniciado em
do sistema.
200721, ou seja, anterior à adoção das NEGAPORT-EB,
necessitando, assim, passar por diversos ajustes para se
4. A Gestão do Programa Estratégico
adequar às referidas normas, a começar pela própria
do Exército Guarani
designação, já que projeto e programa possuem defini-
A solução adotada, voltada para o desenvolvimento de
ções distintas. Segundo as NEGAPORT-EB, Prg EE é
uma NFBR, foi acompanhada também pela decisão
um grupamento de “projetos e ações complementares
de modernização de parcela dos Urutus e Cascavéis.
relacionados, que são gerenciados de modo coordena-
Assim, em um contexto de recursos orçamentários res-
do para a obtenção de benefícios e controle que não se-
tritivos, a solução em pauta seguiu por um caminho
riam disponibilizados se seus componentes fossem ge-
situado entre as duas situações mencionadas, pois um
renciados individualmente” (Comandante do Exército,
aspecto fundamental a ser considerado é o longo prazo
2017, p. 12), objetivando assim ao atendimento dos
exigido para o desenvolvimento do Prg EE GUARA-
OEE. Por sua vez, Projeto Estratégico (do Exército)
NI, com os lotes de novos veículos sendo entregues
“é um esforço temporário empreendido para criar um
em diversas etapas no decorrer de um longo período.
produto, serviço ou resultado que atende diretamente a,
Atualmente, a modernização dos antigos meios meca-
no mínimo, um dos OEE definidos no PEEx, e que, por
nizados está sendo conduzida no Arsenal de Guerra de
essa razão, deve estar diretamente vinculado ao Ptf EE”
São Paulo em parceria com uma empresa civil. Essa
(Comandante do Exército, 2017, p. 12). Nesse sentido
solução mista proporciona a manutenção da operacio-
ainda, cabe destacar o seguinte entendimento sobre o
20 Com a publicação na Portaria Nº 054 do Comandante do Exército, de 30 de janeiro de 2017.
21 O Projeto GUARANI, que evoluiu para o atual Prg EE GUARANI, foi iniciado no mesmo ano em que foi aprovada a 1ª edição das
Normas para Elaboração, Gerenciamento e Acompanhamento de Projetos no Exército Brasileiro (NEGAPEB). O desenvolvimento desse
projeto pioneiro incluiu a reunião decisória da NFBR (marco inicial do projeto); a elaboração do projeto preliminar, modelo de inovação e
seleção da empresa parceira; o desenvolvimento do protótipo; e a experimentação doutrinária (CCOMSEX, 2015, pp. 26-29).
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 156- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
termo “benefício”, constante na definição de Prg EE:
lacunas de CO que necessitam a criação de um pro-
“é um resultado da aplicação de capacidades obtidas
jeto/programa estratégico. A partir daí, são iniciadas
ou aperfeiçoadas, de ações, comportamentos, produtos
as atividades relacionadas ao Grupo de Processos de
ou serviços que criam valor para a organização. O be-
Definição, que visa definir, avaliar, selecionar, e auto-
nefício alcançado contribui para um ou mais objetivos
rizar, ou não, a inclusão de um novo projeto/programa
estratégicos” (Comandante do Exército, 2017, p. 12).
no Ptf EE. Na última etapa desse grupo de processos,
é elaborada e aprovada a Diretriz de Implantação do
O Macroprocesso da Gestão do Ptf EE é formado
novo Projeto/Programa Estratégico do Exército, dando
por quatro grupos de processos, a saber: de Definição,
continuidade ao macroprocesso em questão, ao mesmo
de Planejamento, de Execução e de Controle (Figura
tempo que dá início ao processo de ciclo de vida de um
3). Sob coordenação executiva do EPEx, esse macro-
programa, no caso, o Prg EE GUARANI (em azul na
processo é iniciado com a análise do PEEx. Dessa
Figura 3).
análise, de caráter multisetorial22, são identificadas as
Plano Estratégico do Exército (PEEx) / SIPLEX
Portfólio Estratégico do Exército
Definição
Planejamento
Programa Estratégico GUARANI
Definição
Planejamento
Ciclo de Vida da VBTP-MSR GUARANI
Execução
Execução
Produção,
Formulação
Obtenção
Utilização e
Desativação
Conceitual
Manutenção
Controle
Controle
Encerramento
Figura 3. Macroprocesso de Gestão do Ptf EE. (Fonte: o autor).
Na sequência, são conduzidas as atividades do
esses três grupos apresentam vários pontos de contato
Grupo de Processos de Planejamento, cujo objetivo
com os processos correspondentes aos ciclos de vida
é desenvolver e aprovar o Plano de Gerenciamento
dos Prg EE. Dessa maneira são efetivadas entradas e
do Portfólio; do Grupo de Processos Execução, cujo
saídas em ambos os sentidos dos processos, mantendo
objetivo, como o próprio nome indica, é executar as
o alinhamento estratégico desejado e os planos e outros
ações previstas no plano produzido na fase anterior; e
documentos atualizados.
por fim, do Grupo de Processo de Controle, que visa
realizar o acompanhamento e controle do portfólio e
Por sua vez, a duração do ciclo de vida de um Prg
gerenciar as mudanças identificadas como necessárias
EE varia de acordo com a complexidade das ações a
no plano original, que são apresentadas e inseridas no
serem conduzidas. Um Prg EE, conforme o Art. 90 das
Grupo de Processos de Planejamento, realimentando,
NEGAPORT, “pode ter uma duração muito longa (dé-
assim, o Macroprocesso de Gestão do Ptf EE. Esse
cadas), portanto não compensa detalhar todas as suas
ciclo não possui duração estipulada, entretanto é evi-
atividades, sob pena de se ter um planejamento falho,
dente a importância da sua sincronização com o PEEx.
que fatalmente terá que ser modificado várias vezes ao
Ressalta-se também que os processos que compõem longo do ciclo de vida desse programa” (Comandante
22 Refere-se, de uma maneira geral, ao trabalho desenvolvido em conjunto pelo EME, pelo Comando de Operações Terrestres (COTER),
pelos Órgãos de Direção Setorial (ODS) e/ou pelos Comandos Militares de Área.
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 157- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
do Exército, 2017, p. 51). Dessa maneira, os planeja-
Ressalta-se que as tarefas referentes aos Grupos de
mentos dos Prg EE, dentre eles os do Prg EE GUARA-
Processos Planejamento, Execução e Controle, pos-
NI, são concebidos e executados em parcelas/ciclos de
suem enlaces com a Gestão do Ciclo de Vida dos Siste-
4 anos, buscando-se coerência com o PPA do Governo
mas e Materiais de Emprego Militar, um processo pre-
Federal, que como já foi apontado neste trabalho, tam-
visto em uma publicação especifica25. Neste trabalho,
bém é utilizado como referência para o estabelecimen-
dentro do Prg EE GUARANI, o SMEM evidenciado é
to da vigência do PEEx.
a VBTP-MSR 6x6 GUARANI. Neste ponto, cabe res-
saltar, mais uma vez, a amplitude já citada do programa
O ciclo de vida de um Prg EE é composto pelas se-
em análise, que vai além do processo de obtenção da
guintes fases: Definição, Planejamento23, Execução, Con-
nova viatura. De acordo com o Ptf EE em vigor e com
trole e Encerramento. Conforme mencionado anterior-
a sua diretriz de implantação, o Prg EE GUARANI é
mente, um Prg EE é iniciado por meio de uma Diretriz de
Implantação do novo Programa Estratégico do Exército.
composto por quatro projetos e cinco ações comple-
A diretriz referente ao Prg EE GUARANI foi aprovada
mentares (Figura 4), que englobam Pesquisa e Desen-
em 201824, em substituição a uma de 2013, com a finali-
volvimento de Material e iniciativas relacionadas ao
dade de regular as medidas necessárias à implantação do
aperfeiçoamento dos sistemas de gestão, à capacitação
programa em questão. Essa diretriz e outros documentos
e ao preparo da tropa, à implementação de um supor-
relacionados à iniciação e à viabilidade do programa são
te logístico integrado e à construção de infraestrutura,
reunidos no Grupo de Processo de Definição do Prg EE e
como pavilhões de manutenção e garagens, visando a
servem de subsídio para o planejamento da condução do
adequação das OM mecanizadas. Além disso, a área de
programa propriamente dito. Nesse planejamento, o foco
emprego e capacitação de pessoal forma operadores e
durante as atividades posteriores pode ser obtido através
mecânicos para todas as funções a bordo e em todos os
de um mapa de benefícios, que relaciona as entregas vi-
escalões de manutenção. Todas essas ações convergem
sualizadas do programa com o desenvolvimento das ca-
para o atingimento da plena capacidade de mecaniza-
pacidades necessárias, que são as CO já mencionadas.
ção da Força (EPEx, 2018, p. 28). O Prg EE GUARA-
A partir dessas capacidades, é feita a associação com os
NI inclui ainda a integração de sistemas de armas e de
benefícios pretendidos, que permitirão atender a um ou
mais OEE (Comandante do Exército, 2017, p. 56). Na
C², a experimentação doutrinária e a obtenção de siste-
sequência, são conduzidas as etapas de Execução e Con-
mas de simulação, contemplando dessa maneira, o em-
trole, e por fim o Encerramento do programa.
prego desde o escalão subunidade até o nível brigada.
Figura 4. Composição do Prg EE GUARANI. (Fonte: EME).
23 O Grupo de Processos de Planejamento do ciclo de vida de um Prg EE de duração muito longa, também inclui o planejamento por tranche,
que é a parte do programa que será executada de fato após o planejamento e, por conseguinte, é a parcela que deve ser detalhada. Dessa
maneira, todo o Prg EE é visualizado, mas apenas a tranche a seguir será detalhada para execução (Comandante do Exército, 2017, p. 51). Para
uma exposição mais sucinta do processo em questão, esse aspecto foi suprimido do texto.
24 Aprovada pela Portaria Nº 255-EME, de 30 de outubro de 2018.
25 Instruções Gerais para a Gestão do Ciclo de Vida dos Sistemas e Materiais de Emprego Militar (EB10-IG-01.018), 1ª Edição, 2016.
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 158- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
Dentre os projetos e ações complementares do
flat, montados com anel toroidal, que conseguem rodar
Prg EE GUARANI, o Projeto da Viatura 6x6 pode ser
sem pressão pneumática (DCT, s.d.).
considerado o cerne do programa por ser o que atual-
mente mais benefícios está trazendo, tanto para a Força
A VBTP-MSR GUARANI foi concebido ainda
Terrestre como para a sociedade. Como já apontado, a
para transportar até 11 militares e ultrapassar rampas
BID brasileira vem sendo fortemente beneficiada pelo
frontais de 60% de inclinação, rampas laterais de 30%
projeto em questão. Essa consideração é observada na
e obstáculos com até 0,5 m de altura. Suas dimensões
condução do Ciclo de Vida da VBTP-MSR GUARA-
não são exageradas, tendo 7,04 m de comprimento,
NI, que já passou pelas duas primeiras fases, e atual-
2,70 m de largura e 2,34 m de altura, permitindo assim
mente, está na fase de Produção, Utilização e Manuten-
ser embarcado e transportado em aeronaves como o
ção. Na Fase de Formulação Conceitual, iniciada em
C-130 Hércules e o C-390 Millennium da EMBRAER.
2007, foram elaborados os requisitos técnicos básicos,
Sua baixa silhueta também diminui a exposição da
o anteprojeto e o estudo de viabilidade técnico-econô-
guarnição em situações de risco. Por ser anfíbio, pode
mica da NFBR26, que consubstanciaram a condução da
se deslocar em meio aquático por meio de dois propul-
1ª reunião preparatória para a obtenção da NFBR. Face
sores de hélices. Possui ainda ambiente interno clima-
à complexidade do projeto, foi exclusivamente criada
tizado, ergonomia adequada para os tripulantes, siste-
para conduzi-lo uma gerência técnica, que concebeu o
ma de detecção e extinção de incêndio, capacidade de
modelo de inovação a ser seguido, e resultou na se-
operar no período noturno e posicionamento global por
leção da Fiat S/A como a empresa parceira, por meio
satélite (GPS) (DCT, s.d.).
da sua divisão Iveco27 (CCOMSEX, 2015, pp. 27-28).
Em agosto de 2012, já na Fase de Obtenção, ocorreu
Destaca-se também a incorporação dos concei-
a assinatura do contrato de aquisição do lote de expe-
tos de adaptabilidade e modularidade no projeto, ca-
rimentação doutrinária, composto por 86 VBTP-MSR
racterísticas imprescindíveis para as forças militares
GUARANI, de um total previsto de mais de 1.500 via-
modernas, permitindo que o veículo seja configurado
turas planejadas para serem distribuídas para aproxi-
de diversas maneiras de acordo com a necessidade de
madamente 100 OM da Força Terrestre até o final do
determinada tropa ou situação. Nesse sentido, o veí-
programa (CCOMSEX, 2012).
culo sai de fábrica com uma proteção blindada básica
composta por chapas metálicas de 30 mm antiminas,
5. Resultados Obtidos até o Momento
capazes de proteger a guarnição de modo efetivo con-
tra disparos de munição 7,62 mm M1, possibilitando o
Atual
emprego seguro do veículo na maioria das situações de
Como já mencionado, o objetivo principal do Prg EE
crise e conflito verificados atualmente, particularmen-
GUARANI é transformar as Brigadas de Infantaria
te aqueles verificados na América do Sul nos últimos
Motorizada em Mecanizada e modernizar as Brigadas
anos. Nas situações em que se visualiza enfrentamen-
de Cavalaria Mecanizada. Para tanto, o desenvolvi-
mento da NFBR com tecnologia nacional, constitui-se
tos mais intensos e a utilização de armamento mais
pesado, a viatura GUARANI já é devidamente prepa-
no eixo principal do programa. Desde o seu início, já
rada para receber blindagem adicional, ampliando sig-
foram entregues até meados de 2019, mais de 400 uni-
nificativamente as suas opções de emprego. Além da
dades da VBTP-MSR GUARANI (CCOMSEX, 2019).
modularidade quanto à proteção, o seu design permite
A versão básica da VBTP-MSR adquirida pelo EB
a incorporação de diferentes torres, armas, sensores e
apresenta como características básicas: peso de 18 to-
sistemas de comunicações em um mesmo veículo.
neladas, autonomia de 600 Km e tração nas seis rodas,
sendo esterçáveis os dois eixos dianteiros, diminuindo
Sem a necessidade de alteração nenhuma no proje-
restrições de arrasto nas rodas, melhorando a distribui-
to, o veículo pode ser adaptado para receber tanto repa-
ção de peso e reduzindo o raio de giro, possibilitando
ros automatizados como manuais, permitindo o empre-
assim, manobras em espaços mais reduzidos, como no
go de metralhadoras de calibres 7,62 mm e .50, além de
interior de centro urbanos. Sua potência e versatilidade
um canhão de 30 mm. Dentre as versões já entregues,
são obtidos por meio de um motor diesel Cursor 9 de
chama a atenção a VBTP-MSR equipada com os Repa-
383 cavalos, que permite ao veículo atingir velocida-
ros de Metralhadoras Automatizadas X (REMAX) com
des de 90 Km/h, e de uma transmissão automática de
metralhadoras .50. Ademais, a operação do armamento
6 velocidades à frente. O motor funciona com diesel,
é feita remotamente a partir do interior do veículo, con-
querosene de aviação ou com a combinação de ambos
tando ainda com um sistema de mira laser que, quan-
em qualquer proporção, tornando o blindado adaptável
do ativo, direciona automaticamente a torre do reparo,
à diversas situações. Outro destaque são os pneus run
alinhando-o na direção do alvo desejado (DCT, s.d.).
26 Atividades conduzidas pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx), subordinado ao DCT.
27 A unidade fabril da Iveco Veículos de Defesa foi instalada na cidade de Sete Lagoas, estado de Minas Gerais.
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 159- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
Além da obtenção da VBTP-MSR 6x6 GUARANI
Cabe salientar que todas as fases do Prg EE GUA-
e a aquisição recente da Viatura Blindada Multitarefa
RANI são concebidas de modo a buscar a integração
Leve de Rodas (VBMT-LSR), 4x4, também da Iveco,
com os demais Prg EE constantes no Ptf EE, em par-
as outras entregas previstas no escopo do Prg EE GUA-
ticular com o Programa Estratégico Sistema Integrado
RANI são as versões da VBTP-MSR com implemen-
de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) e o Pro-
to de Engenharia e com morteiro, a Viatura Blindada
grama Estratégico de Proteção da Sociedade (PROTE-
de Reconhecimento (VBR), munições e a capacitação
GER), nos quais as duas brigadas citadas acima são
de pessoal para o emprego dos novos SMEM (EPEx,
protagonistas. Além disso, o Prg EE GUARANI con-
2019).
duz as suas ações de modo a aumentar a interoperali-
dade do EB com a Marinha do Brasil e a Força Aérea
No decorrer da execução dos diversos programas
Brasileira.
que integram o Ptf EE, é natural a ocorrência de ajus-
tes no cronograma em função de fatores diversos, dos
No avanço do Prg EE GUARANI, o 1º Batalhão de
quais o principal é a disponibilidade orçamentária.
Infantaria Motorizado, unidade da 9ª Brigada de Infan-
Atualmente, o prazo de encerramento das obtenções do
taria Motorizada que possui grande experiência de atu-
Prg EE GUARANI foi ajustado de 2030 para o ano
ação em Operações de Garantia da Lei e da Ordem na
de 2040. No curto prazo, correspondente ao período
cidade do Rio de Janeiro, também começou a receber
do PEEx 2020-2023, a previsão é a aquisição, por ano,
as VBTP-MSR GUARANI recentemente. As caracte-
de sessenta unidades da VBTP-MSR GUARANI com
rísticas já mencionadas dessa viatura conferem a ela a
sistemas de C² e de armas integrados e de oito unidades
versatilidade necessária para o seu emprego efetivo em
eventuais operações em centros urbanos, ampliando
da VBMT-LSR 4x4, com todos os seus sistemas inte-
consideravelmente a capacidade de pronta-resposta da
grados (EPEx, 2019).
brigada considerada (Figura 5).
A magnitude dessa transformação no cerne das
duas Armas base do EB já vem sendo verificada nas
suas brigadas mecanizadas em função da adoção de
novos manuais de campanha e na logística, com conse-
quências imediatas para o preparo e emprego da tropa
e para as estratégias de atuação da Força Terrestre, par-
ticularmente nas Operações de Faixa de Fronteira e nas
Operações de Garantia da Lei e da Ordem.
6. Emprego Dos Novos Meios
A grande unidade escolhida para ser a pioneira no pro-
cesso de transformação da Infantaria Motorizada foi a
15ª Bda Inf Mec, sediada na cidade de Cascavel, estado
do Paraná. Constituída por três batalhões de infantaria
Figura 5. VBTP-MSR 6x6 GUARANI em Operações da
Garantia da Lei e da Ordem. (Fonte: CCOMSEX).
mecanizados, um esquadrão de cavalaria mecanizado
e unidades e subunidades de apoio ao combate e de
apoio logístico, todos mecanizados, a 15ª Bda Inf Mec
Verifica-se que a mecanização da 15ª Bda Inf Mec,
foi a grande unidade escolhida para conduzir as ativi-
anteriormente uma Brigada de Infantaria Motorizada,
dades relacionadas à Experimentação Doutrinária. Em
está sendo exitosa na sua contribuição para o atingi-
tempo de paz, essa brigada tem como responsabilidade
mento do objetivo proposto pelo Prg EE GUARANI
atuar, em coordenação e cooperação com órgãos poli-
de transformar a Infantaria Motorizada, pois deu novas
ciais e outras agências, contra crimes transfronteiriços
capacidades para essa Arma, possibilitando o cumpri-
em uma extensa parcela da faixa de fronteira brasilei-
mento de novas missões, especialmente as relacionadas
ra, que inclui a complexa e bastante povoada região da
às operações de reconhecimento e segurança. Nesse
Tríplice Fronteira Argentina - Brasil - Paraguai, onde
mesmo sentido, a 4ª Bda C Mec, ao obter os resultados
o crime organizado é a principal ameaça. Da mesma
do Prg EE GUARANI, otimizou as suas capacidades
maneira que a sua vizinha de sul, a 4ª Bda C Mec é
que são inerentes à Arma de Cavalaria, e vem cumprin-
a ponta de lança do Comando Militar do Oeste28 nas
do assim, as suas já consagradas missões de uma forma
Operações de Faixa de Fronteira conduzidas na sua
mais efetiva junto à fronteira brasileira.
área de responsabilidade, e vem recebendo alta priori-
dade no processo de recompletamento de SMEM, com
destaque para as VBTP-MSR GUARANI.
28 Grande Comando Militar de Área, responsável pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia e o Paraguai.
Revista de la Academia de Guerra del Ejército Ecuatoriano, Volumen 13. Núm. 1 Abril 2020. pp. 160- 162
DA CONCEPÇÃO AO EMPREGO:O PROGRAMA ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO GUARANI
7. Conclusão
tratégico focado na obtenção das CO necessárias ao
O Prg EE GUARANI vem demostrando uma gran-
cumprimento das missões constitucionais da Força,
de capacidade de adaptação à evolução conjuntural e
incluindo ações estratégicas devidamente priorizadas,
doutrinária. O programa foi concebido para entregar
contribui decisivamente para evitar ou mitigar a des-
produtos e resultados ajustados ao conceito operativo
continuidade do programa em questão. Nesse sentido,
do EB, que visualiza o emprego dos seus meios em
a importância do Ptf EE pode ser sintetizado na frase:
qualquer cenário no amplo espectro dos conflitos, des-
“eficácia, eficiência e efetividade, com o emprego ra-
de as ações dissuasivas em tempo de paz até as grandes
cional e otimizado de recursos, só podem ser mensu-
campanhas militares em tempo de guerra. Como medi-
rados e alcançados, quando se trata do gerenciamento
da quantitativa do nível da Transformação pela qual o
de programas e projetos estratégicos, com uma meto-
EB está passando em função do programa em questão,
dologia consistente” (Comandante do Exército, 2017).
ressalta-se que o número de VBTP-MSR GUARANI
entregues à Força Terrestre já ultrapassou a quantidade
Conclui-se assim, que o desenvolvimento de pro-
de Urutus que o EB possuía antes da existência do Prg
dutos de defesa traz grandes benefícios para a socie-
EE GUARANI.
dade brasileira, fomentando a pesquisa científica e
tecnológica e gerando milhares de empregos e renda,
Face às suas características, a VBTP-MSR GUA-
contribuindo, dessa maneira, para girar a economia do
RANI vem sendo empregada com sucesso em diferen-
País. Segundo pesquisa da Associação Brasileira das
tes missões e ambientes operacionais, tanto no campo
Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIM-
como em áreas urbanas. Essa grande versatilidade,
DE), cada R$ 1,00 investido no setor de Defesa, gera
aliada aos seus compensadores custos de aquisição e
um movimento de R$ 3,66 na economia brasileira
manutenção, fazem dessa viatura uma opção viável
(EPEx, 2019). Sem considerar eventuais aquisições de
também para outras forças armadas, particularmente as
outras forças armadas, o Prg EE GUARANI, somente
sul-americanas. Além disso, o seu sistema de armas
no âmbito interno, já está possibilitando uma significa-
permite o emprego do poder de fogo de modo seleti-
tiva revitalização da BID.
vo, reduzindo, assim, a possibilidade de ocorrência de
efeitos colaterais indesejados, possibilitando a perfeita
Por fim, o Prg EE GUARANI consolida um am-
adequação do blindado a regras de engajamento com
plo esforço conjunto e orquestrado de muitos anos do
características muito restritivas, proporcionando mais
EB, da BID e de instituições acadêmicas, contribuin-
confiança aos comandantes em todos os níveis quando
do com o desenvolvimento sustentável, a integração, a
ocorre situações de emprego da força militar em áreas
paz social e a defesa dos interesses nacionais. As CMT
humanizadas. A VBTP-MSR GUARANI pode incor-
obtidas pelo Prg EE GUARANI dão ao EB o poder dis-
porar ainda meios de comunicação que possibilitam a
suasório compatível com a estatura político-estratégica
interoperabilidade das tropas mecanizadas com forças
do País, garantindo a presença do Estado em todos os
militares de outra natureza, ou que atuem em outros
rincões do território nacional e ampliando a sua pro-
domínios do campo de batalha moderno.
jeção no cenário internacional. Ademais, o programa
consolida o Processo de Transformação do Exército,
Verifica-se que as oscilações ou reduções
ampliando a capacidade de atuação da Força e contri-
orçamentárias são o principal óbice para a perenida-
buindo para a Defesa da soberania do País.
de dos programas estratégicos, em especial o Prg EE
GUARANI. Entretanto, a elaboração de um plano es-
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